
Sportv Repórter inédito mostrou, sábado passado, como o doping está se disseminando pela sociedade. O programa abordou as questões comportamentais que cercam o uso de esteróides anabolizantes e outras substâncias químicas.
Pressões sociais, pressões psicológicas, a busca cada vez mais veloz pelo “corpo perfeito”, a necessidade de ser aceito em uma sociedade onde o corpo virou mercadoria e sinal de status. Vários fatores têm levado pessoas comuns a usarem o esporte e os anabolizantes como meros instrumentos para crescerem e ganharem massa muscular. Enquanto atletas se dopam por recordes, prêmios e medalhas, nas academias a competição é por um corpo idealizado, associado ao sucesso. A prática esportiva em nome do prazer e da saúde fica em segundo plano.
O antropólogo Cesar Sabino, um dos entrevistados do programa. Ele fez tese de mestrado e doutorado sobre o uso ritual de esteróides anabolizantes em academias do Rio de Janeiro. E revela que é o usuário de anabolizantes tem uma visão romântica sobre o consumo de substâncias.
- Essa noção de droga é muito pejorativa, então ninguém quer suportar, ninguém quer admitir que usa uma substância que é droga. Ainda mais porque eles estão ali em nome da saúde, do esporte, da prática esportiva. Mas é uma substância que é droga, essa é que é a contradição – disse Cesar, que presenciou alguns relatos marcantes sobre o efeito que a busca pelo “corpo perfeito” tem sobre as pessoas.
- Essa frase que eu escutei muito em várias academias: eu prefiro morrer com 30 anos com 60 de braço do que com 60 anos e trinta de braço.
Cesar Sabino entrevistou 200 homens e 110 mulheres que freqüentavam academias do Rio de Janeiro. Dos 200 homens, 81% disseram ter usado esteróides. Entre as mulheres, 69% disseram ter usado pelo menos uma vez. Segundo Cesar, não é somente o usuário que tem uma visão distorcida sobre o problema.
- As pessoas olham na televisão, as mães, os pais, os irmãos, o senso comum em geral, já que não associa isso a uma droga como a maconha e a cocaína, acham que aquilo só acontece com o grande atleta, com o atleta de renome, que conquista medalha.
O programa esteve na Bahia e mostrou o levantamento feito pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A pesquisa foi coordenada pelo professor Jorge Iriart, coordenador de pós-graduação do ISC, e detectou 15% de usuários em academias da capital baiana. Um índice considerado alto.
- Temos que levar em conta que é possível que muita gente não tenha assumido que utiliza. Nós consideramos como usuário a pessoa que utilizou pelo menos uma vez na vida esteróide anabolizante e pedimos que identificasse qual foi o tipo utilizado. Quinze por cento é bastante alto e a maior parte deles, 70%, utilizou mais de uma vez – disse Iriart.
O estudo realizado na capital baiana mostra um dado alarmante: nas camadas mais populares a estética está misturada à sobrevivência. A pressa para ganhar massa muscular está ligada à oferta de empregos de baixa remuneração principalmente na área de segurança. O corpo é o instrumento de trabalho e o anabolizante vira um atalho para ganhar massa muscular rapidamente.
- Nas camadas médias também aparece o corpo como capital, sem dúvida, como a roupa de marca, como o carro que você tem. Mas tem um investimento, mas é menos esse investimento profissional, para você galgar uma profissão.
Educação e informação previnem o uso de anabolizantes
Os relatos dos especialistas que estudaram o assunto revelam que o usuário de anabolizantes recebe várias pressões e acaba não resistindo. O ambiente das academias acaba sendo um dos estimulantes para o consumo. Gustavo Casimiro, professor de educação física e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, lembra que o perfil da academia pode determinar um ambiente mais ou menos aberto ao uso de substâncias.
- Tem academias onde isso não é discutido. Onde às vezes essa prática não existe, por causa do perfil que a academia prioriza e outras onde você tem isso assim muito próximo. Você observa às vezes em alguns locais. Não vou falar a palavra tráfico, pois ela está muito associada à questão criminosa, violência, armas de fogo, não é a questão. Mas você vê o transporte de drogas chegando. "Chegou o anabolizante ali, fulano trouxe”. Vem numa caixinha, o cara pega, guarda num determinado lugar, depois ele entrega para outra pessoa. Não é difícil ver isso.
Segundo Gustavo, o papel do profissional de educação física é fundamental para educar e informar.
- O profissional de Educação Física ele tem que justamente buscar nesse aluno um processo de educação. Não tem outra saída. Não adianta dizer "não toma isso ou aquilo porque faz mal". Hoje em dia numa época em que a gente vive, em que a informação ela está praticamente 100% democratizada, falar isso é errado porque esse aluno tem acesso muitas vezes às mesmas informações que o profissional tem. Então ele vai começar a buscar o que aquilo causa. Ele vai começar a procurar e provavelmente vai achar trabalhos científicos feitos com anabolizantes e nos quais não existem relatos de efeitos colaterais. Às vezes não tem relato de efeitos colaterais. E ele vai começar a questionar isso - lembra Gustavo.
O Sportv Repórter mostrou também que alguns usuários de anabolizantes sofrem de um transtorno denominado Vigorexia. Pessoas com grande massa muscular que, no entanto, se vêem pequenas e ficam escravas da malhação. Indivíduos que praticam musculação durante várias horas do dia e que nunca estão satisfeitos com o próprio corpo. E para apressar os resultados, acabam usando anabolizantes.
O programa entrevistou o professor e psicopatologista Mario Wilson Xavier de Souza, da Universidade Ibirapuera (SP), especialista no tema. Ele é mestre em distúrbios do desenvolvimento e revela que o vigoréxico geralmente tem pressa e por isso vê no anabolizante a maneira de acelerar o processo.
- É um comportamento obsessivo. E se ele começa a fazer uso dessas substâncias ele vê no seu corpo, num curto espaço de tempo, as alterações. A sua musculatura hipertrofiando. E consequentemente ele vai continuar a fazer uso dessas substâncias. Porque ele está vendo rapidamen as mudanças que pretendia.
Pressões sociais, pressões psicológicas, a busca cada vez mais veloz pelo “corpo perfeito”, a necessidade de ser aceito em uma sociedade onde o corpo virou mercadoria e sinal de status. Vários fatores têm levado pessoas comuns a usarem o esporte e os anabolizantes como meros instrumentos para crescerem e ganharem massa muscular. Enquanto atletas se dopam por recordes, prêmios e medalhas, nas academias a competição é por um corpo idealizado, associado ao sucesso. A prática esportiva em nome do prazer e da saúde fica em segundo plano.
O antropólogo Cesar Sabino, um dos entrevistados do programa. Ele fez tese de mestrado e doutorado sobre o uso ritual de esteróides anabolizantes em academias do Rio de Janeiro. E revela que é o usuário de anabolizantes tem uma visão romântica sobre o consumo de substâncias.
- Essa noção de droga é muito pejorativa, então ninguém quer suportar, ninguém quer admitir que usa uma substância que é droga. Ainda mais porque eles estão ali em nome da saúde, do esporte, da prática esportiva. Mas é uma substância que é droga, essa é que é a contradição – disse Cesar, que presenciou alguns relatos marcantes sobre o efeito que a busca pelo “corpo perfeito” tem sobre as pessoas.
- Essa frase que eu escutei muito em várias academias: eu prefiro morrer com 30 anos com 60 de braço do que com 60 anos e trinta de braço.
Cesar Sabino entrevistou 200 homens e 110 mulheres que freqüentavam academias do Rio de Janeiro. Dos 200 homens, 81% disseram ter usado esteróides. Entre as mulheres, 69% disseram ter usado pelo menos uma vez. Segundo Cesar, não é somente o usuário que tem uma visão distorcida sobre o problema.
- As pessoas olham na televisão, as mães, os pais, os irmãos, o senso comum em geral, já que não associa isso a uma droga como a maconha e a cocaína, acham que aquilo só acontece com o grande atleta, com o atleta de renome, que conquista medalha.
O programa esteve na Bahia e mostrou o levantamento feito pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A pesquisa foi coordenada pelo professor Jorge Iriart, coordenador de pós-graduação do ISC, e detectou 15% de usuários em academias da capital baiana. Um índice considerado alto.
- Temos que levar em conta que é possível que muita gente não tenha assumido que utiliza. Nós consideramos como usuário a pessoa que utilizou pelo menos uma vez na vida esteróide anabolizante e pedimos que identificasse qual foi o tipo utilizado. Quinze por cento é bastante alto e a maior parte deles, 70%, utilizou mais de uma vez – disse Iriart.
O estudo realizado na capital baiana mostra um dado alarmante: nas camadas mais populares a estética está misturada à sobrevivência. A pressa para ganhar massa muscular está ligada à oferta de empregos de baixa remuneração principalmente na área de segurança. O corpo é o instrumento de trabalho e o anabolizante vira um atalho para ganhar massa muscular rapidamente.
- Nas camadas médias também aparece o corpo como capital, sem dúvida, como a roupa de marca, como o carro que você tem. Mas tem um investimento, mas é menos esse investimento profissional, para você galgar uma profissão.
Educação e informação previnem o uso de anabolizantes
Os relatos dos especialistas que estudaram o assunto revelam que o usuário de anabolizantes recebe várias pressões e acaba não resistindo. O ambiente das academias acaba sendo um dos estimulantes para o consumo. Gustavo Casimiro, professor de educação física e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, lembra que o perfil da academia pode determinar um ambiente mais ou menos aberto ao uso de substâncias.
- Tem academias onde isso não é discutido. Onde às vezes essa prática não existe, por causa do perfil que a academia prioriza e outras onde você tem isso assim muito próximo. Você observa às vezes em alguns locais. Não vou falar a palavra tráfico, pois ela está muito associada à questão criminosa, violência, armas de fogo, não é a questão. Mas você vê o transporte de drogas chegando. "Chegou o anabolizante ali, fulano trouxe”. Vem numa caixinha, o cara pega, guarda num determinado lugar, depois ele entrega para outra pessoa. Não é difícil ver isso.
Segundo Gustavo, o papel do profissional de educação física é fundamental para educar e informar.
- O profissional de Educação Física ele tem que justamente buscar nesse aluno um processo de educação. Não tem outra saída. Não adianta dizer "não toma isso ou aquilo porque faz mal". Hoje em dia numa época em que a gente vive, em que a informação ela está praticamente 100% democratizada, falar isso é errado porque esse aluno tem acesso muitas vezes às mesmas informações que o profissional tem. Então ele vai começar a buscar o que aquilo causa. Ele vai começar a procurar e provavelmente vai achar trabalhos científicos feitos com anabolizantes e nos quais não existem relatos de efeitos colaterais. Às vezes não tem relato de efeitos colaterais. E ele vai começar a questionar isso - lembra Gustavo.
O Sportv Repórter mostrou também que alguns usuários de anabolizantes sofrem de um transtorno denominado Vigorexia. Pessoas com grande massa muscular que, no entanto, se vêem pequenas e ficam escravas da malhação. Indivíduos que praticam musculação durante várias horas do dia e que nunca estão satisfeitos com o próprio corpo. E para apressar os resultados, acabam usando anabolizantes.
O programa entrevistou o professor e psicopatologista Mario Wilson Xavier de Souza, da Universidade Ibirapuera (SP), especialista no tema. Ele é mestre em distúrbios do desenvolvimento e revela que o vigoréxico geralmente tem pressa e por isso vê no anabolizante a maneira de acelerar o processo.
- É um comportamento obsessivo. E se ele começa a fazer uso dessas substâncias ele vê no seu corpo, num curto espaço de tempo, as alterações. A sua musculatura hipertrofiando. E consequentemente ele vai continuar a fazer uso dessas substâncias. Porque ele está vendo rapidamen as mudanças que pretendia.
Rodrigo Araujo
Nenhum comentário:
Postar um comentário